A verdade sobre YG

O Rapper nos leva para um insight sobre os altos e baixos de sua vida, sua carreira e seus novos projetos. 


É um sábado de Setembro, YG está no último andar de uma cobertura de dois andares em Hollywood, segurando uma pequena porção de asa de frango desossada e uma gelada Dos Equis(cerveja). 

Uma borbulhante Jacuzzi ali tem vista para as árvores exuberantes, carros de luxo, e um incrivelmente lindo conjunto de casas nas colinas e vales. O dono da casa, Sickamore, um ex-Def Jam A&R (olheiro), que agora é vice-presidente de A&R da Epic, se concentra em um jogo de Madden 16 no andar de baixo com o gerente pessoal de YG, Nano e o amigo de longa data do rapper, Psych. 

Os caras fazem festa aqui de vez em quando, e os vizinhos raramente se queixam. Na semana passada, YG acordou neste mesmo andar para fazer sexo oral em uma convidada da festa, antes de voltar à dormir por mais algumas horas, conta ele. 

"É por isso que eu sei que eu sou abençoado", diz o MC de Compton de 26 anos de idade. "É por isso que eu estou tentando lidar com a minha situação do jeito certo." 

YG é um cara engraçado e um convincente contador de histórias. Ele tem a língua afiada, tem um humor prepotente e cheio de gírias Californianas usa carisma e floreios retóricos (uma imitação aqui, uma piadinha ali) para atrair ouvintes e fazê-los sentir-se parte da história, entretanto, a vida certamente não foi sempre um mar de rosas para YG. 

"Eu estou subindo pela janela", diz ele. "Chego na metade quando boom!" Ele faz um gesto de polícia com o punho. "'Parado!'" Claro que ele não parou. "Aí nós começamos", diz ele, pegando o ritmo. "Nós corremos. Era um bairro puta grande. Nós pulamos pelos jardins e nos escondemos em cima de telhados. Você já viu esses prédios que têm esses plásticos grande que eles colocam uma tenda sobre ele quando vão pulverizar? É uma casa com uma tenda sobre ela. Eu me escondi sob a tenda. Estava tentando prender a respiração. Meu chapa, a polícia estava tipo bem aqui. Eles se moveram, eu ouvi eles. Então eu pulei para fora da tenda e começei a correr. Eles começaram a me perseguir novamente." 

A coisa toda soa como algo saído de um drama policial que você já viu antes: jovem negro correndo na rua em plena luz do dia, com a polícia fervendo no seu encalço. "Nós caímos em outro quintal", diz ele. "Saímos do outro lado, a polícia já bloqueou a merda toda. Cara, já tinha helicópteros e tudo mais. Vinte carros da polícia. Então nós correremos de volta para o jardim da casa. Tinha uma caminhonete velha ali... "Entrei na caminhonete e pensei, ‘Porra’, diz ele. "Nos pegaram. Fudeu." 



YG e seus parceiros tinham feito inúmeros “serviços” como este antes. Por que este deu errado? 

"Foi minha culpa", diz ele, seu tom mudando ligeiramente de triunfo para reflexão silenciosa, "Eu fui com muita sede. Eu tentei quebrar a janela. Não estava abrindo, o mano já estava tipo: 'Está demorando muito, vamos embora. E eu falei “Eu não vim aqui atoa.

Vocês me chamaram cara, estou quase levantando essa porra!'" Um velho ditado do ladrão diz que é melhor fugir com nada do que ser pego com tudo. Mas a juventude encoraja a todos, e YG era nada mais que um jovem. "Eu quebrei a janela com a minha mão", diz ele. "Bum. Destranquei, deslizei pra dentro, subi até a metade das escadas, foi quando a polícia chegou. Eles tinham um alarme silencioso na casa." "Você ver essa merda quando ainda é só uma criança é assustador. É a merda que as pessoas que te amam não querem ver você fazendo." - YG O nome real de YG é Keenon Daquan Ray Jackson. Nascido em Compton na Califórnia, o rapper tinha um "lado Crip" na família: sua mãe. 

YG diz que seu pai, por outro lado estava determinado a proteger seus filhos da cultura de gangues de Compton e empurrou seu filho para o atletismo para tentar mantê-lo longe das ruas sem muito sucesso, YG não permaneceu nas quadras de esporte. É impossível estar com YG sem perceber sua filiação. Ele troca apertos de mão ensaiados com Nano e Psych. Durante os dois dias que passei com ele em LA, ele usa um chapéu vermelho de algum esporte, boxers vermelhos, três-quartos de meias Vans altas dobradas e um Sk8-Hi cinza. Sua tatuagem mais chamativa é a da Virgem Maria que cobre todo o couro cabeludo. Nano e Psych também ostentam tatuagens e um estilo muito parecido com o de YG. Os três compartilham uma vibe fraterna que é mais juvenil do que ameaçadora. Eles gastam o seu tempo de livre zoando uns aos outros, fumando cigarros e tirando sarro de Future. É como uma reunião de meninos levados expulsos da escola. 

A juventude de YG não definida em "Blood vs. Crips", e ele reivindicou amigos de lados opostos. "Não era assim antigamente, essa merda de Bloods e Crips", diz ele. "Essa merda acontece há tanto tempo já, metade família de um cara são membros da Crips. Hoje em dia, alguns dos caras mais velhos não aprovam esse tipo de merda. Eles falam tipo - ele encorpora uma voz trêmula do idoso exagerada - "Na minha época nós batíamos de frente com os caras! Não era só pra ser legal, nada disso, não era essa modinha!" Mas todo mundo entende que os tempos mudam. 

Quando perguntado por que essa história de jovens arriscando suas vidas para defenderem um estilo de vida se repete e não tem um fim, YG salienta que não é algo divertido, mas também não é algo voluntário. "Nossa cultura é de gangues" diz ele "Então quando somos crianças isso é tudo que vemos e que sabemos, aprendemos a lidar com isso. As mães tentam de tudo para manter os filhos longe disso mas é complicado quando se vive no meio disso. Então você ver essa merda quando ainda é só uma criança é assustador. É a merda que as pessoas que te amam não querem ver você fazendo."



Escutando ele falar sobre seus dias de quebrada fica fácil imaginar que tipo de vida preparou YG para a fama. Ele começou a fazer rap ainda na escola e falava sobre conseguir dinheiro e mulheres, sempre inspirado por seu rapper favorito: Lil Wayne. Suas faixas ficaram famosas nos EUA, principalmente nas quebradas e logo ele estava liderando o MySpace. 

Em 2008 sua música chamou atenção do produtor Big B, que o apresentou à Ty Dolla $ign e o Dj Mustard. "Foi quando eu entrei em cana." diz ele sobre o caso que ocorreu em 2008. "Fui pra cadeia, paguei a fiança e fui solto. Aí meu rap começou a bombar." Tudo que YG passou em sua vida serviu de inspiração para seus trabalhos e o resultado é incrivel. "Tem muitos filhos da puta com iveja porque eles vêem onde cheguei e querem o que tenho" - 

YG Durante o que parecia uma era sem limites para os jovens rappers de L.A, YG traçou um curso imprevisível para a fama que poucos acreditaram. Apesar de uma série aclamada de ‘singles de rua’ e mixtapes em 2008, por anos ele foi conhecido na América por "Toot It and Boot It", uma parceria sem brilhantismo com Ty Dolla $ign. Isso mudou em março de 2014 com o LP de estreia de YG para Def Jam, My Crazy Life que foi alavancado pelo hit "My Nigga", uma música viciante resultante da parceria com Young Jeezy e Rich Homie. My Crazy Life chegou ao 2° lugar na parada de álbuns da Billboard após seu lançamento. "My Nigga" (re-feito como "My Hitta" para as rádios) chegou ao Hot 100 da Billboard, acumulando mais de 1,8 milhões em vendas, e ainda ganhou um remix com Nicki Minaj, Lil Wayne, e Meek Mill. 

Mas o sucesso de My Krazy Life foi além de vendas e spins. O álbum decolou com seu estilo conceitual, porém agressivo, elogiado pela crítica por seu nível de narrativa, cheio de emoções e esquetes humorísticas. "YG passou por um processo de maturação incrível como artista nos anos entre 'Toot It' e 'My Nigga'" disse através de um email o empresário da Def Jam, Steve Bartels. "O YG que resultou desse processo foi um artista de álbum, totalmente formado, com perspectiva e música forte. Eu posso dizer que sua nova música vai continuar o legado que ele começou", continua ele, indicando o próximo álbum de YG, Still Brazy. "O material é incrivelmente rico, com camadas musicais, mantendo essa energia inconfundível do YG." 


Em julho, YG aguçou o apetite do público para o seu novo álbum com a música "Twist My Fingaz," um flip pegajoso que foi produzido por Terrace Martin, um protegido de Snoop Dogg. A faixa foi um sucesso nas rádios de L.A. e audaciosamente ostenta o trecho: “Eu realmente tenho algo a dizer / Eu sou o único que conseguiu sair do Ocidente, sem Dre.” A música de YG é reveladora, visto que foram lançados no mesmo ano de “Compton” do Dr. Dre e “To Pimp a Butterfly” de Kendrick Lamar. 

A rica história do rap de Los Angeles nos traz a memória: The Game e Kendrick Lamar foram ambos anunciados pelo Dr. Dre, e as faixas em seus repertórios evocam Eazy E e 2Pac por seus estilos. Em contraste, as referência de YG encaixam-se perfeitamente dentro de sua realidade e de onde ele veio. Ele canta sobre dinheiro e mulheres obsessivamente e alegremente, e quase sempre prefere uma festa do que uma briga. Essa é a alegria constante que sempre ofusca qualquer narrativa mais sinistra em suas músicas. Se Lamar fala sobre jovens gangsters em Compton, YG fala por eles. 

O novo álbum de YG é algo diferente do que ele está acostumado a fazer, algo novo e ousado. Com clássicos rítimos do G-Funk, o rapper expandiu sua costumeira temática de festas e ostentações para narrativas profundas sobre sua vida pessoal e o resultado foi exêntrico. "Esse álbum é um pouco mais obscuro." diz Sickamore. "É mais paranóico, é um reflexo de seu momento atual." Há músicas sobre a filha de YG, Harmony, e o novo propósito de vida que ela lhe deu. Há uma mensagem sobre a brutalidade policial que ganhou as manchetes, mas ao contrário de algo espiritual, é um grito de guerra, apelando a seus companheiros para não deixarem passar policiais que escapam da pena por assassinato. Há hinos sobre ficar de boa, abençoado e intocável, e um feat com 50 Cent que é o melhor verso que 50 fez em uma década, em que ele canta com uma sede jovem ao lado YG e Nipsey Hussle sobre querer uma Benz que ele certamente já possuía. E, o mais revelador, há uma canção arrepiante sobre a segunda vez na vida de YG que quase destruíu tudo o que ele tinha feito. A faixa abre com uma gravação de uma reportagem sobre um tiroteio que foi ao ar apenas algumas semanas antes. Toda vez que ele apresenta o álbum para salas cheias de produtores, compositores, representantes da gravadora, ou amigos próximos durante os dias eu estou com ele em L. A., essa é a música que ele sempre toca em primeiro lugar. 


YG sofreu uma tentativa de homicídio e foi tratado por seus ferimentos em 13 de junho e ele gravou uma canção, provisoriamente intitulada "Who Shot Me", no mesmo dia. Autoridades informaram que YG foi "muito pouco cooperante" quando perguntado sobre o incidente, mas em "Who Shot Me" ele descreve sua reação a ele com bastante transparência. Com batidas harmonicas à um coro da igreja, ele pondera sobre os inimigos e amigos que podem estar envolvidos na tentativa de golpe e como isso afetadou sua família, seu trabalho, e sua paz de espírito. "Eles sabiam o código de segurança da minha casa", ele canta. "Isso é estranho". 

Desde que a notícia do tiroteio circulou nas mídias, tornou-se mais difícil para YG para se deslocar em L. A. Muitos estúdios pararam de retornar suas chamadas, e ele teve que começar a tomar precauções adicionais. Um guarda-costas chamado Gloves acompanha-o a todos os lugares. Até à data, não houve pistas na investigação do tiroteio. "É um bando de filhos da puta aqui nesse lugar dizendo 'Que se foda YG'", diz ele. "Nós não os conhecemos," Psych completa. 

Uma parte de mim sente que de alguma forma, YG tem encontrado uma forma totalmente nova para contar suas histórias sobre como invadiu casas, sobre quando estava na prisão e sobre levar um tiro. Ele conta com uma exuberância que faz parecer que ele estava se divertindo durante essas coisas. Sua música encontra a alegria de crescer em Compton e coloca celebração antes de narração. 

YG é um gangster famoso de L.A. e não tem o que provar, afinal, por que ele iria querer pagar de gangster se não fosse um? YG ainda ganha notas altas por sua capacidade de ser a voz das ruas e cumprir o seu destino como um porta-voz confiável ​​para todos os seus conterrâneos, como diria um Tupac Shakur. ( Sim, nós estivemos lá, lide com isso.) 

Ainda assim seu novo álbum, Still Brazy é uma prova de que a experiência da vida real gera a melhor música, mas podemos fazer sem os tiroteios e os crimes. Nós precisamos que você viva YG para realizar plenamente o seu potencial, porque não é nada menos que incrível. 



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